Processo de Cassação da Rádio Cultura é contado em livro 44 anos depois

^{Andrea Trindade}

O jornalista Dimas de Oliveira laçou o livro "O Processo de Cassação da Rádio Cultura", na noite de sexta-feira, 13 de julho, data que lembra os 44 anos em que foi ao ar, em 1974, a entrevista do então deputado federal Francisco Pinto, feita pelo radialista Lucílio Bastos, quando o parlamentar reiterou críticas ao presidente do Chile general Augusto Pinochet, presente em Brasília para a posse do presidente Ernesto Geisel.

Por conta do discurso, o deputado foi processado com base na Lei de Segurança Nacional, ficou seis meses preso em Brasília e sua entrevista na rádio de Feira de Santana foi usada como peça do processo contra ele. Também por causa do discurso do parlamentar reproduzido na emissora, a Rádio Cultura foi fechada, após ficar 15 dias fora do ar. As palavras foram consideradas ofensivas ao presidente estrangeiro.

A emissora só foi reaberta em julho de 1985, dez anos depois. Segundo Dimas, o livro “Processo de Cassação da Rádio Cultura" é uma compilação das peças do processo que resultou no fechamento. A publicação relata a greve de fome e as inúmeras visitas, que Chico Pinto recebeu na prisão especial no quartel do 1º Batalhão de Polícia Militar de Brasília. Entre os visitantes estava o diretor presidente da Fundação Egberto Costa, Antônio Carlos Daltro Coelho, que na época era vereador.

“A obra é resultado de pesquisa feita a partir de material disponível no Arquivo Nacional, instituição que é responsável pela preservação e difusão de documentos da administração pública federal. Também são reproduzidos registros da imprensa sobre o episódio histórico. Reproduções de fotos e fac-símiles integram galeria de imagens. Como é dito na apresentação do livro, feita por Thomas Oliveira: "Os próprios fatos que compõem o livro falam por si. Não existe tomada de posição do organizador, que tão somente traz à luz documentos que estiveram como confidenciais, secretos e sigilosos”, explicou Dimas Oliveira em uma publicação no Facebook.

Ao Acorda Cidade Dimas informou que, de posse do arquivo nacional, ele foi instigado a organizar o livro. “ A Rádio Cultura é a segunda rádio de Feira de Santana, surgiu a reboque da sociedade, tinha distinção de grupos políticos e era de um grupo ligado à esquerda. Ela levava informação e cultura para Feira de Santana e as demais cidades alcançadas. Lá tinha um auditório que serviu de espaço para lançamento de muitos talentos musicais da cidade e por lá passaram também grandes radialistas”, recordou.

O ex-vice-prefeito de Feira de Santana e professor Luciano Ribeiro elogiou Dimas Oliveira como pessoa e como profissional do jornalismo e disse que o fechamento da rádio causou um grande impacto na cidade. Ele também ressaltou que o livro servirá de instrumento de busca em pesquisas sobre a história da cidade e do período da Ditadura.

 “Fizemos teatro juntos, implantamos ações na área de cultura na década de 60, movimentávamos a cidade, realizamos muitos eventos aqui na Biblioteca Municipal. Dimas é uma marca histórica de Feira de Santana. Eu conheci a rádio, vi a rádio funcionar, atuamos juntos no teatro, no auditório da rádio, e acompanhamos o fechamento da rádio. O deputado Francisco Pinto fez um discurso que foi reproduzido na emissora e em virtude disso a rádio foi fechada pela Ditadura Militar. Foi um marco no país. A rádio era muito popular e foi um impacto muito grande para a sociedade Feirense, para a cultura e para a liberdade de imprensa. Dimas trouxe tudo isso no livro, que é um livro de pesquisa que servirá para estudo desta e das próximas gerações”, declarou.

Livro a venda

O livro está à venda nas principais bancas de revistas de Feira de Santana e no Boulevard Shopping pelo preço de R$ 30,00. A obra também está disponível no site da Amazon, em formato de e-book.

“O Processo de Cassação da Rádio Cultura” é uma edição do Núcleo de Preservação da Memória Feirense, órgão da Fundação Senhor dos Passos.

O lançamento foi realizado na Biblioteca Municipal Arnold Silva com a presença de amigos, familiares, autoridades e imprensa local.

Fotos: Ed Santos/Acorda Cidade

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade