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Cidade do México: a metrópole mais congestionada do planeta

Com menos carros que São Paulo, capital mexicana registra o dobro de seu próprio trânsito a cada final de dia

23/04/2018 às 14h06, Por Andrea Trindade

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Todas as manhãs, Adriana Carlos deixa sua casa nos limites ao Sul da Cidade do México às 7 da manhã no que deveria ser uma manejável viagem ao escritório onde trabalha. Ao invés disso, seu trajeto do bairro de Xochimilco, no centro-sul, dura em torno de duas horas e envolve três baldeações antes de chegar ao trabalho, no extremo sudoeste da metrópole.

"Você perde muito do seu dia parado no trânsito", explicou ela ao jornal mexicano El Universal. Adriana trabalha como representante de vendas, o que permite a ela, por outro lado, que o trânsito lhe dê algum tempo para dormir no ônibus durante o trajeto.

O trânsito severo atormenta os 21 milhões de habitantes da Cidade do México. Segundo a empresa estadunidense de monitoramento de vias Tom Tom, que mantém um portal em tempo real para medir o aumento do trânsito em ruas e avenidas de 295 médias e grandes cidades globais de 38 países em horários mais problemáticos, a capital mexicana tem uma alta de 66% de ruas e avenidas entupidas todos os dias.

Pela manhã, o número chega a 96%, e, na volta para casa, a Tom Tom afirma que o trânsito na capital mexicana cresce 101% – ou seja, ele dobra seu próprio tamanho. Hoje, é a metrópole mais congestionada do mundo, superando Bangcoc, na Tailândia, e Jacarta, na Indonésia. Na lista das cidades entupidas, o Rio de Janeiro aparece na oitava colocação mundial. O licenciamento 2018 nas capitais brasileiras deve confirmar a expectativa de alta nas respectivas frotas.


Curiosamente, a frota de veículos de São Paulo é maior do que a da Cidade do México, o que comprova um argumento dos analistas de que o problema não é o número de veículos, mas a infraestrutura: enquanto São Paulo possui 8,3 milhões de automóveis, a capital mexicana tem 4,5 milhões registrados. “Uma cidade como Tóquio, por exemplo, é menor que São Paulo territorialmente, mas tem mais carros. No entanto, o trânsito não é um grande problema: a infraestrutura viária é que determina isso”, explica o consultor Joel Leite, da agência Auto Informe.


Na Cidade do México, nos últimos meses, o problema também tornou o ar mais tóxico. No primeiro semestre de 2016, a capital mexicana teve apenas 26 dias com a qualidade do ar considerada aceitável, fazendo com que as autoridades tomassem ações drásticas, declarando emergência ambiental e ordenando que milhões de automóveis saíssem de circulação.


O governo recentemente mudou as regras que determinam quais carros podem trafegar em dias específicos – um programa conhecido como "Hoy no Circula" – e revisou o sistema de testes de emissões para cortar a corrupção pela raiz. Os controles de trânsito obrigam que os motoristas cujo veículos não seguem padrões de emissão – cerca de 20% da frota – mantenham-se fora de circulação um dia por semana. A versão mais restritiva do projeto acabou em julho de 2016, permitindo que aproximadamente 600 mil veículos voltassem às ruas.


Mesmo assim, a neblina de poluição não se dispersou, demonstrando que as soluções eram de curto prazo. Adriana afirma que gostaria de viver perto do trabalho, mas os aluguéis na Cidade do México são mais caros que nos limites da capital ou nos subúrbios do estado – um conglomerado urbano que se espalha por três lados da cidade.


"Há um problema estrutural", disse Raúl Martínez, que estuda questões urbanas. Ele pontua que o rápido crescimento dos arredores da capital se deve à chegada de muitas pessoas de estados mais pobres, que chegam procurando oportunidades econômicas na capital de um país cujo emprego e renda são fortemente centralizados. Os migrantes geralmente acabam trabalhando como pedreiros, jardineiros ou domésticas nas regiões mais ricas.


A topografia do México contribui para o problema: a Cidade do México está sobre um lago alto e rodeado de montanhas, mantendo a poluição acima da zona urbana. A estação chuvosa ajuda em algo, mas Martínez e outros analistas são céticos que as medidas antipoluição do governo farão alguma diferença.


O governo federal introduziu uma série de planos ao longo dos últimos anos, e uma série de novos modelos de veículos passaram a circular sem restrições pela cidade. Os críticos afirmam que o plano vai promover apenas a venda de mais carros – algo que eles alegam que já acontece entre habitantes que compram automóveis extras para burlar o rodízio.


A qualidade do ar na capital mexicana melhorou nas últimas duas décadas, mas não muito. Uma série de escolhas de políticas públicas fez com que o carro particular ficasse mais barato, fácil e mais necessário, segundo observadores. Financiamentos subsidiados pelo governo para a construção de imóveis também aumentaram as distâncias entre os lugares. O petróleo é outro componente que recebe subsídios estatais em torno de US$ 20 bilhões (R$ 65 bilhões). Apesar disso, um grande número de estradas foi construído – uma ideia replicada em outras partes do país.


"Dizer que a Cidade do México é agora uma cidade motorizada não é apropriado", explica o planejador urbano Rodrigo Díaz em um artigo acadêmico publicado pela Universidad Autonoma de Mexico (Unam). No documento, ele mostra que 39% das casas na cidade tinham seu próprio carro em 2000. Dez anos depois, esse número aumentou para 46,5%.


O transporte público também foi negligenciado na medida em que o geralmente lotado sistema de metrô foi envelhecendo, permitindo que uma desconfortável frota de microônibus e peruas tomassem as ruas. Incidentes envolvendo abusos sexuais estão crescimento nas linhas de metrô e ônibus, embora as classes médias e altas – e aqueles que possuem um carro – geralmente não sofram com essas questões.


No sistema inteiro, "a pessoa menos importante é o passageiro", disse Enrique Soto, professor de Estudos Urbanos da Unam, ao diário britânico The Guardian. A Cidade do México disponibilizou bicicletas como uma opção de locomoção na década passada, e o serviço conhecido como Ecobici atraiu cerca de 120 mil usuários. Elas, no entanto, não são vistas como solução. Enquanto isso, a cidade vai se tornando cada vez mais famosa pelos índices impressionantes de trânsito.

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