Roberta Costa
Para Humberto*, o álcool fazia parte da sua vida e, no começo, não era visto como um vício.
“Minha família chorava, pedia para eu não beber. Eu tinha a mesma rotina a semana toda. Já levantava para beber, perdi o meu emprego e os meus clientes. Hoje eu estou bem graças a Deus, sou outro homem”, disse Humberto, que deixou um conselho para quem está tentando sair do vício: “A fábrica não vai fechar, mas o viciado morre por causa do álcool”.
Os especialistas afirmam que o consumo excessivo do álcool causa danos à saúde de forma direta e indireta.
“O uso abusivo de álcool está relacionado a traumas, acidentes, agressões, coma alcoólico, hepatite aguda e arritmias. Também afeta diversos órgãos e principalmente o sistema nervoso, fígado, pâncreas e músculos”, diz Antonio Beuttenmuller Gonçalves Silva, neurologista do Hospital São Camilo (SP).
Ele explica que o álcool vicia psíquica e fisicamente e, por isso, a pessoa precisa utilizar a substância cada vez mais para se sentir satisfeito.
“Quando um alcoólatra suspende o uso do álcool, surgem os sintomas de abstinência: irritabilidade, taquicardia, pressão alta, excitação psíquica, confusão mental e até alucinações. Neste momento, é fundamental a intervenção médica para preservar a saúde da pessoa e ajudá-la", complementa.
No Crer, os internos são assistidos por uma equipe técnica composta por pedagogo, educador físico, psicólogo, e assistente social que promovem atividades sócio-educativas como o desenvolvimento pedagógico, prática de esporte, atendimentos individuais psicoterápicos e assistência espiritual.
Além de trabalhar com adultos, desde 2011 o Crer trabalha com adolescentes, devido ao crescimento da utilização do álcool por jovens a partir dos 12 anos.
“A cachaça causa desmoralização e a consequência financeira é muito grande”, diz o interno José*, que está no local há apenas uma semana.
“Recebi uma herança significativa, que poderia mudar minha vida e gastei tudo em 6 meses com cachaça. Já cheguei a passar três semanas embriagado de dia e de noite. Não tive forças para me livrar do vício. O álcool, se não for o pior, é uma das piores drogas. Eu não conseguia comer, só esperava o dia clarear para começar a beber. Me senti desprezado, não tomava banho e mal dormia. Não desejo isso a ninguém”, finalizou.
*Os depoimentos foram colhidos pelo repórter Ed Santos, do Acorda Cidade. Os nomes dos entrevistados foram trocados, para preservar as suas identidades.