Artigo
Esquecer a morte
Já que a humanidade não consegue superar a morte, numa espécie de vingança, procura esquecê-la e fazer de conta que ela não existe. Isso faz parte da mentalidade de hoje.
30/10/2017 às 11h47, Por Maylla Nunes
A indústria mortuária norte-americana está em crise e trata de inovar o setor. Entre as melhorias, destaque para o traçado mais bonito dos caixões, com desenhos psicodélicos e descontraídos, baseados nas viagens espaciais. Evidentemente, nada de luto ou de preces.
OUTRA NOVIDADE: Um concurso lançado por uma empresa israelense pode ser última chance de uma pessoa tornar-se célebre. Para participar, o usuário da Internet precisa gravar um vídeo que será exibido após sua morte. O regulamento prevê que o vídeo não será publicado em caso de suicídio ou quando interferências visam antecipar a própria morte.
O EDITOR da revista Playboy determinou que alguns temas não poderiam, de maneira alguma, fazer parte da revista: doença, fome, violência e, sobretudo, a morte. Já que a humanidade não consegue superar a morte, numa espécie de vingança, procura esquecê-la e fazer de conta que ela não existe. Isso faz parte da mentalidade de hoje.
A MORTE é uma coisa séria. Sua sombra costuma pairar sobre as pessoas, sobretudo a partir de certa idade. A vida pode ser definida como um aprendizado para a morte. Aprender a morrer é tarefa pessoal e irrepetível. Mas antes disso, precisamos aprender a viver. O tempo é um dom de Deus e nos é dado para nosso amadurecimento. Viver bem é a melhor maneira de preparar a morte. Mesmo assim, a morte se constitui no momento mais privilegiado da vida.
NA VISÃO apenas humana, a morte é um absurdo. Temos ânsia de viver para sempre e somos finitos. A visão da fé nos abre horizontes novos. Depois da morte há um Pai de braços abertos para acolher seus filhos. Neste sentido, a morte é um novo nascimento. Os primeiros cristãos, colocavam na sepultura o dia do nascimento, mas não nascimento para o mundo, mas o nascimento para a eternidade.
A MORTE tornará definitivo, não os últimos quinze minutos, mas nosso projeto de vida. É o apito final e vale o resultado do jogo. Mas é um jogo de cartas marcadas. Cristo morreu por nós, dando-nos a condição de ressuscitados. São Paulo proclama: vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor ( Rm 14,8). Na celebração do Dia de Finados – 02 de novembro – é bom meditar essas verdades.
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito
[email protected]
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