Aniversário da Cidade

Jornalista Adilson Simas abre baú de memórias sobre fatos e histórias de Feira de Santana

Um itaberabense que se considera feirense há mais de 60 anos, independente de condecoração. A Feira de Santana ele conhece e guarda com muito cuidado nas páginas dos seus arquivos, jornais e revistas.

18/09/2017 às 07h03, Por Andrea Trindade

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Rachel Pinto

Um apaixonado por Feira de Santana e um colecionador de memórias. Esse é o perfil do jornalista Adilson Simas. Um itaberabense que se considera feirense há mais de 60 anos, independente de condecoração.  A Feira de Santana ele conhece e guarda com muito cuidado nas páginas dos seus arquivos, jornais e revistas. Com um tom crítico e de humor, ele sabe de histórias de política, cultura, economia e de muitas personalidades. No aniversário de Feira, ele abriu seu baú e seu escritório para o Acorda Cidade e comentou como esta cidade cresce e se desenvolve com seus entrocamentos de pessoas, vidas e rodovias.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
 

Adilson Simas começou no jornalismo muito jovem e passou por diversos veículos de comunicação na cidade. Um dos fundadores do extinto e histórico Jornal Feira Hoje, atuou como radialista, assessor político, colunista em vários jornais e atualmente, através de seu blog (http://porsimas.blogspot.com.br/) e redes sociais, conta em versão digital as páginas antigas da história de Feira de Santana.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
 

Com uma longa experiência e aguçado faro jornalístico, ele prefere não revelar quantos anos tem. “Já passei da idade de dizer a idade. Sou do dia 24 de agosto e do signo de virgem". É uma charada atrás da outra e cada fato contado por ele se materializa em uma tela imaginária bem na sala da sua casa, entre o computador, os jornais, arquivos antigos e as dezenas de livros de escritores feirenses que fazem parte da sua mesa e volta e meia são folheados.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
 

A Feira Antiga, pelas palavras e pela escrita de Adilson Simas, ganha uma forma lúdica, saudosa e desperta em muitos a curiosidade. Um amante do passado ele também não nega o presente e nem o futuro. Destaca a importância de cada tempo para a cidade e revela que também arquiva fatos atuais para que fiquem para a posteridade. Um arquivo vivo, ele mergulha na história e em uma viagem pela Princesa do Sertão explica que vive dois dias de uma só vez. 
 
‘Dois dias em um dia’
 
Tal feito de Adilson Simas acontece da forma que ele vive o dia presente, acompanha as notícias e fatos diários e ao mesmo tempo recorda o que ocorreu no mesmo dia de um ano qualquer. Assim o jornalista traz para a realidade fatos antigos, notícias importantes e preserva a memória de Feira de Santana. Nas suas redes sociais, blog e em sua coluna no site da prefeitura ele disponibiliza tais informações e assim a história vai sendo arquivada de forma digitalizada e acessível a todos.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Antiga Praça da Kalilândia)
 

“Eu trabalho o dia todo, inclusive aos domingos e, na verdade, eu vivo dois dias em um dia só. Por exemplo, hoje é 12 de setembro de 2017 e eu estou vivendo este dia e o que se passa neste dia. Ao mesmo tempo, eu estou vivendo o mesmo 12 de setembro de um ano qualquer. Por exemplo, de 1970. Abro um jornal e vou procurar ver o que houve nesse dia. Aí vêm as histórias e recordações. Esses fatos eu transcrevo e coloco no meu blog, no facebook e na minha coluna. Tem materiais que foram escritos por mim e também por outras pessoas. Quando não é meu eu peço à pessoa e coloco o crédito”, explica.

Na edição de 7 de julho de 1973, ano em que Feira de Santana comemorou o centenário de emancipação política (o Dia da Cidade é outra coisa), a coluna “Pois é” , no Jornal Feira Hoje, abordou o fim da II Grande Guerra Mundial, em maio de 1945, e as festividades na cidade ao receber a notícia.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (A primeira Micareta)

 
184 anos de Feira de Santana
 

No aniversário da cidade, Simas destaca que há muitos motivos para comemorar. O desenvolvimento, o progresso e as novas gerações. Ele observa que o crescimento acelerado da cidade, consequentemente, guarda o passado nos arquivos de jornais e faz a sua própria história. O encantamento pela cidade o acompanha desde que era menino. Quando ia para o mercado antigo e via o movimento da feira livre e toda aquela movimentação, fotografava na memória para depois contar aos outros. Assim ele começou no jornalismo, contando fatos que vivenciava com riqueza de detalhes e tornou-se uma grande referência de profissional da área.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Praças da Bandeira e João Pedreira)

Irônico, perspicaz, crítico e com um tom de humor, ele tem a maestria de em um caldeirão de palavras fazer grandes porções de textos e trazer para aqueles que pouco conhecem a cidade a sua história e a sua vida. Com dois livros lançados, um sobre as memórias de Feira de Santana e sobre épocas de ouro do Flumimense de Feira, Adilson é um jornalista e escritor insaciável por tudo que acontece e sua boa memória registra tudo sem deixar escapar nenhum detalhe.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Rua Desembargador Filinto Bastos)

 
“Cheguei em Feira criança e minha família veio por necessidade de sobrevivência. Aqui crescemos e formamos famílias. Sempre tive muita curiosidade e gostei de contar histórias. Quando eu era menino e minha mãe me mandava ir para o velho mercado na Praça Bernadino Bahia comprar carne, eu parava e ficava olhando toda aquela movimentação. Via o fato de boi sendo vendido amarrado na corda, o propagandista vendendo o remédio de cobra e aquilo tudo eu gravava na memória e chegava em casa contando. Minha mãe perguntava ‘onde foi que você viu isso, menino?’ E então a minha relação com o jornalismo vem disso aí. Em 1968, eu iniciei no Jornal ‘A Situação’ e além de editor de esportes fazia também a coluna estudantil. Escrevia e contava histórias do passado na escola e depois veio o Feira Hoje e outros trabalhos. Assim eu me apeguei a Feira de Santana e ela passou a ser a menina dos meus cuidados do dia a dia. Eu gosto de Feira de Santana em todos os aspectos. Ela é a maior cidade da Bahia depois da capital e cresce com os seus próprios pés”, afirma.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Rua Conselheiro Franco)
 

Na prática de jornalista, Simas teve a curiosidade de descobrir e escrever matérias sobre a história dos bairros da cidade. Foi conversar com antigos moradores e saber histórias dos mais velhos. Numa dessas andanças ele achou uma boa versão para o surgimento do nome do bairro Tomba, atualmente um dos maiores e mais populosos bairros da cidade e que poucos têm conhecimento de suas memórias.
 
“Os mais velhos contavam que o trem saía da estação rodoviária indo do fundo da igreja Matriz para Cachoeira. Passava perto do Tomba, aí tinha uma ladeira e o maquinista dizia: ‘Gente, vamos descer porque nessa ladeira a locomotiva tomba’. Assim virou tomba e essa é a versão dos moradores. Eu fui descobrindo a cidade com os próprios moradores”, ressalta.


 
 

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Casarão Olhos D'água)


Um jornalista pela cidade

O descobrir da Feira de Santana por Adilson Simas foi permitido principalmente pela sua aptidão e genialidade jornalística. Ele relembra que no tempo que trabalhava em redações de jornais ia apurar os fatos e escrever matérias caminhando pelas ruas da cidade. Nesse ir e vir Feira ia se revelando e assim apresentando a sua gente e suas histórias.
 

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Igreja da Matriz)


“Na minha época o repórter saia para fazer uma entrevista, uma matéria, ia todo mundo junto caminhando, conversando. Tinha Zadir Marques Porto, Socorro Pitombo, que era a única jornalista mulher, e íamos juntos do jornal até o centro, até a prefeitura, nisso aí a gente via as notícia e conhecia a cidade”, recorda.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Avenida Getúlio Vargas)
 

Para Adilson Simas, o amigo jornalista Jânio Rego é uma referência de bom profissional que está em sintonia com a cidade e tudo que nela acontece. Ele brinca e aí acrescenta: “O jornalista pra mim tem que ser doido, tem que ter cara de doido. Veja só Jânio Rego, é um grande jornalista para mim. Ele sai com seu chinelo, sua máquina fotográfica, roda pela cidade e daqui a pouco ele escreve uma notícia retada. O jornalista precisa ter visão jornalística”, observa.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Estádio Joia da Princesa)
  

Sobre o futebol, Simas é curto e breve, mas não deixa de registrar o seu amor pelo Fluminense de Feira. “Não me fale em futebol não que me dá uma saudade. Eu nem sei como é entrar mais em um estádio. O Fluminense já foi a cara da cidade.”
 
Arquivos atuais

O jornalista ressalta, ainda, que em tempos de informações digitais, também tem a preocupação de guardar e arquivar fatos importantes que são veiculados nos sites e no meio virtual. O computador não lhe dá o mesmo prazer de folhear um livro ou jornal, mas ele entende que todo esse processo é pilar para o desenvolvimento, é acompanhado também pela comunicação e então é preciso acompanhar. Assim acontece com Adilson Simas também em relação a fatos policiais. Ele comenta que é uma área que não lhe desperta muito o interesse, mas sabe que é preciso registrar e arquivar fatos de grande repercussão. Ocorre o mesmo com os processos estruturais e políticos que ocorrem na cidade.

Foto: Arquivo Adilson Simas (Avenida Getúlio Vargas)
   

Tempo presente
 

Além de conhecer mais sobre a história de Feira de Santana ‘Por Simas’, a partir de todo o material e arquivos do jornalista Adilson Simas, que está disponível no site da prefeitura, no seu blog, na sua página do Facebook e em um dedo de prosa com ele, o próprio simplifica e diz que é muito fácil conhecer Feira de Santana. São muitas entradas, muitas saídas e em todo lugar tem uma movimentação, tem uma feira, tem gente que é o DNA da cidade. O passado é sempre o tempo presente, as memórias fazem parte de toda essa configuração humana, histórica, política, social, cultural e econômica e são a consequência do tempo futuro.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Avenida Senhor dos Passos)
 

Feira de Santana faz 184 anos de vida e mudam-se os formatos dos jornais, das fotografias e letreiros, mas não muda a essência da cidade. Princesa sertaneja, das feiras, das estradas, dos encontros e da vida de cada um que por aqui passou, ficou, ou seguiu viagem.

Foto: Arquivo de Adilson Simas (Rua Sales Barbosa)
  

Nesses encontros de rodovias, tivemos o prazer de receber aqui o jornalista Adilson Simas, um feirense de vida e de coração que é a história viva que corre nas veias da cidade.
 
Parabéns Feira de Santana!
 

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