Feira de Santana

Estudante que já escreveu cerca de 800 poesias sonha em lançar livro e ser uma grande escritora

O amor de Reniely pelas letras e palavras lhe acompanha desde a infância e ela sempre gostou de ler e desbravar o universo mágico dos livros.

25/08/2017 às 06h20, Por Andrea Trindade

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Rachel Pinto

“Ela nasceu para brilhar. Tudo que ela sonha corre atrás e vai à luta”. Essas são as palavras da agricultora Rita Melo, mãe da jovem Reniely Melo dos Santos de Freitas, de 20 anos que mora na localidade de Mata do Capim, município de São Gonçalo dos Campos e desde os 12 anos de idade escreve poesias sobre a natureza, os sentimentos, as atividades do cotidiano e o ciclo da vida.

O amor de Reniely pelas letras e palavras lhe acompanha desde a infância e ela sempre gostou de ler e desbravar o universo mágico dos livros. Quando estudou o ensino fundamental no colégio do Dispensário Santana e morou no internato de meninas do Colégio Padre Ovídio em Feira de Santana, se aproximou ainda mais da leitura, especialmente da poesia.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A jovem já participou de vários concursos, prêmios e apresentações e com sua sensibilidade ao escrever e perceber as coisas, por muitas vezes alcançou o primeiro lugar.

Na casa simples que fica na zona rural de São Gonçalo dos Campos e também é divisa com o distrito de Humildes em Feira de Santana, ela mora com a mãe, o pai, o irmão e guarda além de muitos cadernos com poesias escritas, muitos sonhos de um dia ser reconhecida como uma grande escritora, lançar um livro. estudar e aprender cada vez mais.

Todos esses cadernos de sonhos e sentimentos ela apresentou à reportagem do Acorda Cidade e então embarcamos juntos nessa viagem que mostra que vale sempre a pena sonhar e que nada é impossível para aquele que confia e busca realizar o que tanto deseja.

Rita Melo, conta que vivenciar todos os sonhos com Reniely nunca foi tarefa fácil. Primeiro pela distância onde moram, a dificuldade de acesso à transporte e também a falta de recursos financeiros.

O pai de Reniely foi demitido da empresa que trabalhava há algum tempo e a família conta apenas com o recurso do Bolsa Família e a renda da pequena produção de farinha e de mandioca. Os pais trabalham na roça, plantam alguns alimentos para o consumo da família e o que sobre é vendido no distrito de Humildes e também para a vizinhança.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Minha filha é o meu maior orgulho. Eu fico tão feliz de ver esse desenvolvimento dela. Ela é interessada, se dedica e faz de tudo para conquistar o que deseja. Na família e aqui onde a gente mora, só tem ela que é assim. Ela se destaca na escrita das poesias e mesmo com todas dificuldades, sempre fizemos de tudo para ajudá-la. Nunca deixamos de incentivá-la. O dinheiro é pouco, ela precisa de uma coisa, pede um material, um curso, a gente fica triste porque às vezes não podemos dar, mas ela nuca desiste. O ponto de ônibus, por exemplo, é bem longe da nossa casa e quando ela vai pro estágio ou vai estudar nós a levamos até lá e na volta vamos encontrá-la”. diz Rita.

O sonho da faculdade

Ao concluir os estudos do ensino médio, Reniely foi em busca de cursar uma faculdade. Ela relata que sempre quis fazer letras vernáculas, mas a princípio pela própria questão de dificuldade de deslocamento de onde mora até Feira de Santana e também pela falta de recursos financeiros, decidiu que iria fazer o curso de pedagogia à distância em uma faculdade particular. A flexibilidade de horário e as aulas presenciais apenas uma vez na semana foram facilitadores e fizeram com que ela partisse para essa nova etapa.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Quando eu conclui o segundo grau, pensei logo em fazer uma faculdade. Passei no curso de Pedagogia EAD. Eu consegui a bolsa do Programa Educamais e pago a metade. Vou à faculdade uma vez por semana e recentemente consegui um estágio remunerado em uma escola do distrito de Humildes. Acompanho uma criança especial e auxilio a professora com os alunos. Graças a Deus, com essa bolsa de estágio eu pago a faculdade, compro alguns materiais e pago algumas despesas quando vou à Feira de Santana estudar”, conta.

Cursar uma faculdade à distância também não é tarefa fácil na vida de Reniely, já que não tem computador, estuda através apostilas, pelo celular e faz os trabalhos no espaço da faculdade. Além disso, conta também com a compreensão dos professores que conhecem de perto as suas dificuldades.

“Eu consegui colocar internet em casa e uso para fazer pesquisas e para ver obras de escritores que eu gosto como Vinícius de Morais e Carlos Drummond de Andrade. Também tenho vontade de ter um notebook, mas por enquanto uso o celular mesmo. Pago R$40 da internet e minha madrinha sempre me dá uma ajudinha também. Faço faxina na casa dela aos finais de semana e recebo R$25, R$30. Ela consegue muitos livros para mim e me ajuda como pode. Tem ainda a professora Célia Andrade que me ajuda na correção das poesias”, acrescenta a jovem.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade | Rita Melo, mãe de Reniely trabalha na roça para ajudar a filha

Perto de Deus

De família católica, Reniely afirma que ter estudado por vários anos no internato de meninas e a relação com as freiras e as obrigações religiosas lhe aproximaram ainda mais de Deus e da sua misericórdia. Ela participa do grupo jovem da igreja católica e da renovação carismática da paróquia do distrito de Humildes e sempre em eventos e datas comemorativas apresenta seus textos e poesias. O frei José Monteiro Sobrinho é também um grande incentivador das suas obras e do seu grande sonho de lançar um livro.

“Eu nunca perdi minha fé. No internato eu percebia que quanto mais eu pedia a Deus, eu ficava mais perto de alcançar meu sonho. Sempre acreditei e sei que um dia vou conseguir muitas coisas através da minha poesia”, enfatiza.

Inspirações

A sensibilidade da jovem escritora e as inspirações pra todos os poemas vem na maioria das vezes de forma espontânea e com muita rapidez. Ela ressalta que acontece geralmente quando está fazendo alguma coisa em casa ou até dormindo. De repente vem aquele estalo e surge a ideia de escrever sobre algum tema.

“A inspiração vem de forma divina. Às vezes vem a ideia de escrever sobre algum assunto assim do nada. Vem quando eu estou fazendo alguma coisa em casa, arrumando as coisas e até quando eu já estou deitada. Aí eu vou pego o caderno, a caneta e começo a escrever. Quando eu vejo alguma situação de injustiça e de preconceito, por exemplo, também surgem as ideias e aí eu escrevo. Algumas pessoas pedem para eu escrever poemas sobre datas comemorativas, como aniversários, casamentos, eventos de escola e atividades da comunidade. A inspiração vem de forma livre e natural”, completa.

Poesia para o Acorda Cidade

Acreditando em seu sonho e ouvinte de todas as manhãs do Programa Acorda Cidade, Reniely resolveu fazer uma poesia para expressar sua admiração pelo programa e pelo radialista Dilton Coutinho e mandar através do whatsapp para a produção do programa.

“Desde pequena eu sempre ouvi o Acorda Cidade. Todos os dias o rádio aqui em casa é ligado bem cedinho. Toda a minha família ouve. Um dia eu pensei em escrever uma poesia sobre isso e mandar para Dilton Coutinho. Nesse dia que eu mandei a mensagem, faltou energia em minha casa e eu achei que a mensagem nem tinha enviado. Mas, depois que a energia chegou ela foi enviada. Aí no outro dia, quando eu liguei o rádio, que estava passando a minha poesia, eu não me contive e chorei de alegria. Chamei minha mãe, que veio correndo para ouvir também”, comenta Reniely.

Ao ouvir a filha chamando, Rita Melo, que estava trabalhando na roça de mandioca, foi logo para casa e quando passou a poesia de Reniely no Acorda Cidade a agricultora foi tomada pela emoção.

“Quando eu ouvi Dilton Coutinho falando o nome dela, eu me tremi toda, chorei tanto. Foi uma alegria tão grande que eu não tenho nem palavras para explicar”, salienta.

Reniely explicou ainda que confiou o seu sonho ao programa Acorda Cidade, porque tinha certeza que receberia atenção e alguém iria ouvir a sua poesia.

“A inspiração de escrever sobre o programa veio do hábito de ouvi-lo todos os dias. É um programa que a gente tem confiança. Eu sabia que se eu entregasse esse sonho nas mãos de Dilton Coutinho ele ia me ouvir um pouquinho”, diz.

E assim aconteceu. A poesia de Reniely e sua delicadeza em escrever sobre o trabalho do Acorda Cidade tocou a todos da equipe. Fomos descobrir a sua história e ficamos ainda mais cotagiados com a sua garra, sua luta, a sua vontade de vencer e fazer com que seu sonho aconteça.

Seus olhos e esperanças brilham tanto que contagiam e enchem de alegria os corações de quem muitas vezes não percebe a grandeza do que está ao redor e que a poesia está nos gestos, na natureza, na essência e no significado de cada palavra que é escrita e falada.

Sonhar é livre e não custa nada. O primeiro passo só depende de cada um de nós.

Só depende de você
Se você sonha
Vá em busca
Não esmoreça
A vida é cheia de surpresas

Todos têm talentos
Alguém já pressentiu
Outros têm medo
Sorte sua que descobriu

Pintar, escrever, cantar, amar
Independente de como seja
É preciso valorizar

É tão bonito conquistar
Aquilo que se ama fazer
Eu gosto de poesia
Mas, não sei você

(Reniely Melo dos Santos de Freitas)

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