Cultura
Museu itinerante em Feira de Santana conta a história da literatura de cordel
Esse universo lúdico e mágico pode ser desbravado até o dia 30 de agosto, no Museu Itinerante do Cordel, no Mercado de Arte Popular (MAP), em Feira de Santana.
17/08/2017 às 12h40, Por Rachel Pinto
Rachel Pinto
Livrinhos coloridos com desenhos chamativos impressos em tinta preta, cartazes e objetos diversos chamam a atenção de quem passa. Histórias sobre política, cultura, memórias, economia e causos engraçados com títulos inusitados proporcionam diversão, informação e muitos aprendizados. Esse universo lúdico e mágico pode ser desbravado até o dia 30 de agosto, no Museu Itinerante do Cordel, no Mercado de Arte Popular (MAP), em Feira de Santana.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
A iniciativa é do folheteiro e cordelista Jurivaldo Alves da Silva, de 71 anos, da cidade de Baixa Grande e que mora em Feira de Santana há 54 anos. Ele teve contato com o primeiro cordel aos 12 anos de idade e de lá pra cá o acervo só aumentou. Atualmente, ele contabiliza por alto uma coleção de cerca de 4 mil cordéis, além de inúmeros objetos que têm referência a esse tipo de literatura, que tanto marca a história e a vida, principalmente do povo nordestino e sertanejo.
Jurivaldo conta que aprendeu a ler e escrever com os cordéis. Ele comprava os folhetos e pagava alguém para ler até que de tanto ouvir pudesse decorar e aprender as histórias. Depois repetia tudo que aprendia e voltava olhando todas as letras. Nesse esquema, acabou se familiarizando com a língua portuguesa e além de leitor, passou também a ser, propriamente dito, cordelista. E folheteiro, como ele faz questão de dizer.
“Sou cordelista e folheteiro, porque além de vender os cordéis de minha autoria, vendo de outros autores também. Aquele que vende as publicações de outros cordelistas, chamamos de folheteiro. Sempre foi uma paixão desde menino e há 20 anos a dedicação é total. Quando saí do emprego, fui ao quarto do meu filho e folheei uma coleção que ele tinha de 50 cordéis. Nessa data, ia acontecer uma romaria na região de Milagres e aí eu resolvi ir com os cordéis e falei: 'Deixa ver se o povo ainda conhece o cordel'”, relatou.
E não deu outra. Ao chegar à romaria, Jurivaldo despertou a curiosidade e as lembranças das pessoas através das histórias em cordel. A partir daí ele resolveu divulgar a cultura dos cordéis pelas feiras livres e, por dez anos, ficou sob sol e chuva embaixo de uma árvore na praça João Pedreira em companhia dos cordéis e do movimento pulsante do centro da cidade.
Foto: Rachel Pinto/Acorda Cidade
Quando o Mercado de Arte Popular foi reinaugurado, Jurivaldo migrou para o espaço e junto com outros cordelistas, entre eles o feirense Franklin Machado, está diariamente no local disseminando as histórias dos folhetos, conversando, fazendo amizades e trocando experiências.
Um dedo de prosa e ele já dispara sobre o seu amor sobre a literatura de cordel, edições que estão à venda e também o seu acervo pessoal que compõe o museu itinerante.
Segundo ele, a coleção é o seu xodó e não empresta, não troca e nem vende. “Aqui eu tenho relíquias que guardo ao longo de anos. Os cordéis que estão à venda ficam do outro lado e aqui é o acervo do museu. Meu objetivo é levar esse projeto para o conhecimento da população, escolas, estudantes, pesquisadores e crianças para que mantenham viva essa cultura. Tudo aqui respira cordel. Você vai me perguntar: 'O que aquela miniatura da espaçonave Apollo 11 tem a ver com o cordel?'. Então eu lhe digo: 'Apollo 11 foi a primeira espaçonave que levou o homem a pisar na lua'. Isso está no cordel e muita gente só acreditou porque saiu no cordel”, comenta Jurivaldo.
Tantos fatos curiosos, históricos e divertidos estão pendurados nos varais dos cordéis de Jurivaldo e são complementados com as suas vivências e explicações. Além de cordelista e folheteiro, ele é também conhecedor e admirador da história de Lampião e é um folheto vivo da cultura e sabedoria popular.
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