Tragédia
Após três meses, jovens mortos pelo pai em incêndio são sepultados em Feira de Santana
Ana Cristina foi liberada hoje do setor de queimados do Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, para ir ao enterro no cemitério São Jorge, em Feira de Santana.
28/03/2017 às 16h05, Por Andrea Trindade
Andrea Trindade
Cinco caixões e dezenas de familiares e amigos formaram a triste cena do sepultamento dos jovens mortos durante um incêndio criminoso em uma residência no Alto do Rosário, no bairro Mangabeira, em Feira de Santana ocorrido no dia 4 de janeiro.
Os corpos foram liberados do Departamento de Polícia Técnica (DPT) hoje (28), após quase três meses do ocorrido, por conta do exame de DNA exigido para confirmação das identidades das vítimas quando são carbonizadas. Os corpos seguiram direto para o cemitério São Jorge, após a liberação na tarde desta terça-feira (28). A família teve ajuda da prefeitura para obter os caixões – todos fechados e com as fotos das vítimas.
O acusado da chacina é Gilson de Jesus Moura, 49 anos, pai e avô das vítimas, que ainda tentou matar a esposa, que também é irmã dele, Ana Cristina de Jesus Moura, 37 anos, e outra filha de apenas 4 anos, Aila Daniela de Jesus Moura – únicas sobreviventes da tragédia.
Fotos: Aldo Matos/Acorda Cidade
Ana Cristina foi liberada do setor de queimados do Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, para ir ao enterro. Ainda debilitada e com queimaduras nos braços, precisou ser levada em uma cadeira de rodas e deve retornar ainda hoje para o hospital.
Aila já recebeu alta e está com pele cicatrizada. Morreram no incêndio Thays de Jesus Moura, 13 anos, Carlos Alexsandro de Jesus Moura, 9 anos, e Xayane Vitória de Jesus Moura, 8 anos, filhos do acusado; a enteada dele, Emile de Jesus Moura, 16 anos, que estava grávida de cinco meses, e o filho de Emile, de prenome Enzo.
Fotos: Aldo Matos/Acorda Cidade
A prisão
Gilson foi preso às 7h10 do dia 6 de janeiro no Marajó, em Feira de Santana, enquanto esperava transporte para fugir para outra cidade. Ele estava usando um chapéu para não ser identificado, mas foi reconhecido e preso. O veículo Gol vermelho, de placa HZT-7136, usado na fuga de Gilson, foi encontrado abandonado no bairro Santo Antônio dos Prazeres por policiais da 66ª CIPM.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade (Arquivo)
No dia do crime, ele fugiu para a cidade de Capim Grosso e depois retornou para Feira de Santana. O sargento da Polícia Militar, Messias Reis, da 64ª CIPM, disse ao Acorda Cidade que a prisão ocorreu após uma ligação anônima informando o local onde ele estava.
Confissão
Foto: Paulo José/Acorda Cidade (Arquivo)
Gilson disse que teve um surto e que os filhos eram tudo que tinha. Ele afirmou que não tinha problemas com a família e que não premeditou a chacina.
“No dia eu fui para Capim Grosso, abasteci e fiquei pensando se eu ia me entregar ou não. No meu carro tem dois pacotinhos de veneno que eu estava pensando em tomar. Não sei explicar o que eu fiz, sinceramente. Não tinha problema com minha enteada, ela estava morando com o marido, sempre que precisava de dinheiro a gente dava. Meus filhos eram tudo para mim, foi um surto, em nenhum momento eu planejei aquilo. Foi um surto e eu não tenho palavras. Eu não bebo, não fumo, mas eu estava tomando remédio controlado, porque eu tenho problema de ejaculação precoce e o médico receitou uns remédios. Os remédios tinham acabado e eu tinha que voltar ao médico para ele passar novos remédios, mas eu estava esperando passar as festas, e de repente só pode ter sido por causa disso, esse surto, porque eu não tinha motivo. Eu nunca fui traído [pela minha esposa]”, declarou.
Gilson também disse que não houve discussão com a família. “Eu não acho que eu mereça perdão. Para falar a verdade eu não mereço perdão. No dia a gente nem teve conversa. Do nada peguei o combustível que estava no fundo do carro, que era para colocar na moto, nada foi planejado, não houve discussão, não houve nada, eu não sei explicar. Eu não disse que iria matar ela depois do Ano Novo.
Sinceramente, a minha família não tem coragem de me encarar, porque não tenho palavras para explicar este ato que cometi. Não tenho condições de falar mais nada”, disse Gilson confirmando que era irmão materno da esposa.
Gilson afirmou que a família não era contra o relacionamento com a irmã. "Eu já tinha me separado, e quando nos relacionamos já éramos adultos. A família nunca se posicionou contra. Nossos irmãos iam direto à nossa casa. Hoje homem se relaciona com homem e mulher com mulher e eu não vejo nenhuma anormalidade nisso", disse.
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