Feira de Santana

Candidatos suspeitos de comprar votos prestam depoimento na Polícia Federal

Eles foram ouvidos e liberados após condução coercitiva para a delegacia da PF.

30/09/2016 às 12h41, Por Kaio Vinícius

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Laiane Cruz e Ed Santos 

O vereador e candidato Wellington Andrade (PSDB) e o candidato a vereador pastor Pedro (PSC) foram ouvidos e liberados na delegacia da Polícia Federal de Feira de Santana, na manhã desta sexta-feira (30), após serem conduzidos coercitivamente por agentes do órgão sob a suspeita de participarem de um esquema ilegal de compra de votos no município, para as eleições do próximo domingo, dia 2 de outubro. 

Após prestar depoimento, o vereador Wellington Andrade informou em entrevista ao Acorda Cidade que os policiais revistaram o apartamento onde ele mora com a esposa, em busca de documentos e indícios que caracterizassem o crime eleitoral.

“Eu fui abordado hoje, procurado pela Polícia Federal na minha residência, às 6h, que estava à procura de documentos ou de comportamentos que caracterizassem compra de votos, boca de urna e etc. Mas eu tive boa vontade junto com minha esposa e deixamos o apartamento livre para que eles vasculhassem. Fizeram uma varredura e lá nada encontraram que caracterizasse a prática criminosa da compra de votos”, afirmou o candidato do PSDB.

O vereador esclareceu ainda sobre suspeita de compra de votos e uma suposta negociação financeira envolvendo o pastor Pedro.

“Um item que a polícia está dando mais importância é que pastor Pedro, que também é candidato, me apresenta uma liderança que deixa de caminhar com ele e vem caminhar comigo. A polícia imaginou que houve uma negociação financeira. O que houve foi que essa liderança tem divergência religiosa com o pastor. Os dois são amigos, mas religiosamente divergem, e como pastor Pedro tem respeito pela nossa candidatura e pelo nosso mandato, nos procurou para encaminhar essa liderança. Essa liderança entendeu que me ajudando estava atendendo a um pedido de pastor Pedro e ela está conosco hoje nos ajudando. Nada mais do que isso e ficou comprovado. Fomos ouvidos separadamente, sem nenhuma combinação, e foi uníssono nesta questão”, justificou Wellington Andrade sobre a acusação.

O pastor Pedro também prestou esclarecimentos na delegacia da PF. Ele atribui as acusações a perseguição por conta do trabalho social que ele desenvolve na cidade.

“Nós fomos conduzidos para prestar esclarecimentos e vejo como uma perseguição pelo trabalho social que estamos fazendo na cidade, que tem incomodado e mexido com muita gente. Não é porque é um momento político que vamos parar o nosso trabalho social. As pessoas são rejeitadas e não podemos rejeitá-las agora. Nós não temos nenhum tipo de compra de votos. Não viemos para aqui sermos conduzidos por compra de votos, mas sim por perseguição”, afirmou pastor Pedro.

Sobre a distribuição de alimentos e marcação de consultas, ele diz que esse trabalho social já é feito há muitos anos com sete ônibus que circulam gratuitamente para a população. “Nós vamos continuar o nosso trabalho, que é um trabalho de Deus”, disse.

Investigações

O delegado da Polícia Federal Fábio Marques informou que as investigações revelaram que o pastor evangélico liderava um esquema de captação de votos mediante o preenchimento de listas intituladas de ‘Oração para a família’ onde eram exigidos os dados eleitorais do fiel e caso eles se negasse a fornecer a ordem é que seriam amaldiçoados. Ele confirmou que as informações foram passadas à polícia pelo Ministério Público Federal e a partir daí foi deflagrada a operação batizada de 'Simão', que vem do codinome utilizado pelos policiais para se referir ao principal investigado, uma referência ao Apóstolo de Jesus Cristo.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Durante a investigação a gente usou a técnica da interceptação telefônica, devidamente autorizada pela Justiça Eleitoral, e onde em determinado momento foi captado um áudio de uma liderança política oferecendo um lote de votos para o candidato que é pastor evangélico. Nessa ligação ele se recusa em razão de não possuir o valor solicitado. Então, ele arruma outro candidato que teria esse valor para pagar. Eles marcam um encontro com a liderança, e a gente acredita que foi concretizado porque essa mesma liderança política que chega nessa reunião com a plotagem do seu veículo do pastor, ao final da reunião retira a plotagem e coloca a do atual vereador e também candidato para esse pleito”, explicou o delegado.

Segundo ele, o pastor ainda estaria intermediando a regulação de pacientes na Secretaria Municipal de Saúde. “Lá eles encaminhavam esses pacientes para clínicas mediante o fornecimento do seu título de eleitor. Há contatos que precisam ser apurados dentro da secretaria e na central de regulação, que estavam auxiliando esse tipo de ilicitude”, informou o delegado.

Ele acrescentou que durante o depoimento os suspeitos não quiseram revelar o valor das negociações da compra de votos e que hoje foram conduzidas nove pessoas e foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

O promotor Audo Rodrigues reforçou a importância de a população denunciar crimes eleitorais como esses. Ele afirmou que a lei existe para todos e aqueles que praticarem tais atos serão punidos. “A gente está aqui para cumprir o nosso papel e levar a Justiça à punição de todos os envolvidos. Os responsáveis que serão punidos não são apenas os candidatos, mas todos aqueles que estiverem envolvidos em condutas criminais também serão punidos nos rigores da lei”.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Ele informou que o Ministério Público vai aguardar a conclusão do procedimento de investigação, que demanda a transcrição de áudios e coleta de provas de relação. “Isso será formalmente encaminhado ao Ministério Público Eleitoral, que deflagrará as ações, que serão provavelmente de natureza criminal com pedido de prisão a depender dos crimes cometidos, e num segundo momento as ações de natureza cível, que demandam a cassação do registro ou diploma se eles forem eleitos, e também a inegibilidade dos oito anos seguintes”, afirmou o promotor.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Essa é só a ponta do iceberg que estamos conseguindo enxergar de condutas que estão sendo levianamente praticadas por diversas pessoas no município e nós estamos na busca incessante contando com o apoio da Polícia Federal. Nós estamos apurando e aprofundando para se descobrir uma teia verdadeiramente criminosa que possa existir no tocante a eleições municipais. A lei que trata do crime da compra de votos também pune o eleitor. A mesma pena para candidatos é para o eleitor que solicita ou recebe aquela benesse em troca de um voto” acrescentou o promotor Audo Rodrigues.

Leia também: Polícia Federal combate crimes eleitorais em Feira de Santana

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