Política

Governador quer tirar 4 mil PMs de serviço burocrático

A declaração foi dada na noite de sexta-feira (2), em seu primeiro dia de trabalho como governador

05/01/2015 às 08h24, Por Andrea Trindade

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O novo governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou que vai convocar cerca de 4 mil policiais militares que estão fora de suas funções, em atividades burocráticas no estado, para reforçar o policiamento nas ruas. A declaração foi dada ao jornal A Tarde, na noite de sexta-feira (2), em seu primeiro dia de trabalho como governador e minutos depois de nomear o coronel Anselmo Brandão para o comando-geral da Polícia Militar. Leia a íntegra da entrevista.

O senhor acaba de recepcionar a presidente Dilma na Base Aérea. Vão se encontrar neste final de semana?

Não combinamos nada. Fui recebê-la como amigo. Foi um rápido encontro, porque ela está em férias de descanso com a família. Mas ela voltou a reafirmar que a Bahia pode contar com a presidente, e nós vamos agendar, o mais breve possível, uma agenda de trabalho, logo no seu retorno a Brasília.


Qual a sensação de estar sentado na cadeira que foi ocupada por oito ano pelo seu padrinho político, o ex-governador Jaques Wagner?


Olha, eu diria que a sensação maior não foi o dia de hoje. Eu diria que tiveram dois momentos neste período todo. Um, foi no dia do resultado da eleição (5 de outubro). O outro, ontem (dia 1º), na posse. Começou quando eu estava escrevendo o discurso, as lágrimas vieram, é como um filme que vem em alta velocidade, a história da nossa vida, particularmente a minha, sem nenhum patrimônio. Eu sempre estava do outro lado da mesa despachando e hoje estou do lado de cá. Mas a emoção, mesmo, foi o dia de quinta (na posse).

Aumentou a responsabilidade?

Ah, sim. Aumenta muito a responsabilidade. Mas me considero tranquilo, preparado, em condições de responder e com motivação muito grande. Este mês já começo a ir para o interior, a realizar tudo aquilo que falei nos comícios e nos palanques. Onde tiver hospital estadual vou visitar.

O senhor assume em cenário de crise. Antes da sua posse foi feita uma reforma administrativa e, para reduzir custos, suspensas férias e gratificações. O arrocho vai permanecer até quando?

Ele vai continuar e vai aumentar. Acredito que é no momento de crise, de aperto, que se faz as principais e melhores mudanças. Então, vamos aproveitar essa crise para sairmos melhores do que entramos: refinando a gestão, priorizando o que deve ser gasto e investido. É isso o que estou pedindo aos secretários, que revisem todos os aluguéis de imóveis no Estado, busquem locações mais baratas, e revisem a lotação de cada órgão, para redimensionar funções. Vamos lançar olhares sobre todas as áreas, buscando gastar cada centavo da forma melhor.

O senhor disse, após a cerimônia de posse, que acha difícil que novas transferências da União ocorram antes do segundo semestre. Como vai administrar este início de governo?

Nós temos muito contratos em andamento, contratos de obras que ainda vão iniciar. Então, vamos, primeiro, dar um curso mais célere em tudo que estiver contratado em andamento, com recursos garantidos, e preparar, refinar os projetos para o momento em que tiver disponibilidade de recursos. Minha expectativa, otimista, é que no segundo semestre nós possamos ter a abertura (de mais crédito) para recepcionar novos projetos.

O senhor destaca três áreas prioritárias no seu governo: saúde, educação e segurança. No seu discurso fala que vai liderar o processo de uma escola inclusiva e de qualidade. Como vai ser?

Esta será absolutamente minha prioridade. Estou propondo um pacto pela educação, mobilizando os prefeitos, os secretários municipais. Vamos olhar a educação não só no segundo grau. Mas, também, os nove anos antes de estudo que o aluno teve para chegar lá. Se essa formação tiver problema, vai comprometer o resto. Então, temos que cuidar da educação, desde a pré-escola até a universidade. Por isso estou chamando para mim mesmo, essa tarefa, de mobilizar prefeitos, secretários e pais e alunos.

Saúde é um problema nacional e o senhor defende mais recursos para o setor. Virá mais imposto, nova CPMF, para o contribuinte arcar?

Acho que tem que ter um debate com a sociedade, os brasileiros acham necessário mais recursos para a Saúde. Defendo mais recursos porque houve uma rápida mudança do perfil demográfico brasileiro e, no Nordeste, isto é mais acentuado. Nos últimos 12 anos melhoraram a renda do brasileiro, os investimentos na região, o PIB cresceu mais e as pessoas tiveram mais acesso à informação. A queda da natalidade no Nordeste é expressiva e há uma população maior na faixa de idade madura com uma parcela crescente de idosos, que estão vivendo mais. Então, quem vive mais demanda uma quantidade maior de serviços, de média e alta complexidade, cada vez mais caros.

Mas de onde virão os recursos?

Nós precisamos, sem receio, conversar com a sociedade. O Brasil precisa de infraestrutura, mas se o País disser: vamos cortar desses investimentos e colocar na saúde para não aumentar imposto, é uma opção. Vamos pensar de onde cortar. Um imposto que sempre se pensou, e que outros países adotam, como os Estados Unidos, é sobre as grandes fortunas. Enfim, defendo menos preconceito em relação a essa questão, e que o debate seja colocado às claras, porque não é uma questão partidária. Eu falei com Alckmin (governador de São Paulo, do PSDB) e ele disse ser plenamente favorável a que tenhamos uma nova fonte de recursos para a saúde.

A segurança é um outro grande problema. O senhor acaba de nomear o novo comandante da PM no Estado. Como pretende diminuir, efetivamente, a violência?

Se olharmos os índices de homicídio, há uma guerra civil. Mas quando identificamos o perfil desses homicídios, vê-se que 80% são homicídios vinculados direta ou indiretamente ao tráfico de drogas. É assim no resto do País. Mantive o secretário de Segurança e estou trocando os dois braços operacionais, para otimizar as ações na área.

O que o senhor espera com essa troca nos comandos operacionais?

O que penso é otimizar ao máximo, no caso da PM, o efetivo de policiais que nós temos e retirar os policiais que hoje estão dispersos em outros poderes, fazendo outras coisas no Estado, em trabalhos burocráticos, dentro e fora do governo, nas prefeituras, na Assembleia. Quero chamar boa parte destes policiais de volta (aos quartéis).

O senhor tem ideia de quantos policiais estão fora das ruas?

Cedidos a outros poderes nós temos 1.200 policiais. Em parte burocrática temos cerca de 2 mil dentro do Estado, e quanto aos cedidos às prefeituras já pedi o levantamento dos números. Então, numa conta rápida, estamos falando de quase 4 mil policiais que poderiam estar reforçando o policiamento nas ruas e estão fazendo trabalho administrativo, burocrático, ou, às vezes, sendo porteiro de outros órgãos públicos e atuando como vigilantes. Esta não é uma função de um policial militar e nós vamos consertar isso. Trabalho de porteiro deve ser feito por porteiro. Trabalho de vigilante deve ser feito por vigilante. Nós queremos valorizar nossos profissionais para que possam atuar nas atividades fins, para as quais fizeram concurso público para serem policiais civis e militares. E vamos implementar algumas medidas de reorganização das duas polícias, de modernização, e instalar, não só na Região Metropolitana mas no Estado inteiro, câmaras com monitores para otimizar o trabalho da polícia naquelas áreas onde há um potencial maior de crime.

O senhor logo vai se deparar com as demandas do funcionalismo. Maio é a data-base de reajuste salarial e ainda tem o pagamento da URV. O que o senhor pode dizer à categoria, tendo em conta que o governo passado enfrentou duas grandes greves, dos professores e dos policiais?

Nós temos uma realidade difícil, de crise, que todos nós sofremos e vamos viver este cenário. Os avanços salariais e benefícios estão atrelados às possibilidades financeiras e de economia do estado. Não há milagre a fazer. Mas nós vamos dialogar, conversar bastante. Ao longo dos últimos anos houve uma inquestionável evolução nos ganhos dos servidores. Nem todo ano dá para ser no mesmo ritmo do ano anterior. Portanto, vamos ver o cenário que se coloca, fazer conta, e ver a possibilidade do que e quanto atender.

Dá para antecipar se o reajuste do funcionalismo ficará acima da inflação acumulada no período?
Por enquanto não dá para antecipar nada. Nós ainda estamos fazendo um balanço de como virou o ano, do que foi empenhado, do que tem ainda de restos a pagar. Isso vai levar de 10 a 15 dias.

Nesta audiência, que o senhor disse que terá com a presidente Dilma, qual vai ser a pauta tratada?

Queremos discutir o projeto do eixo sul do São Francisco, o Canal do Sertão, para abastecimento de água. Falar com ela do investimento do Porto Sul (em Ilhéus e que está acoplado ao projeto da ferrovia Oeste-Leste), das obras de infraestrutura de aeroportos no estado, e, também da ponte Salvador – Itaparica, que vai desenvolver o Recôncavo e a região do baixo-sul do Estado (custo estimado de R$ 7 bilhões). Estamos com o projeto pronto, já antecipamos uma cópia impressa para a presidente, que vai precisar de dinheiro do governo federal e da iniciativa privada. Vamos fazer, neste primeiro semestre, uma busca no mercado internacional de investidores que queiram apostar no projeto, que tem previsão de cinco anos para ser concluído.

Como o ex-governador, hoje ministro da Defesa Jaques Wagner, vai ajudar seu governo lá em Brasília, estando numa pasta que não tem investimentos diretos para a Bahia?

Eu quero dizer que a Bahia tem demandas em todas as áreas de governo. E se o ministro (Wagner) estivesse no Ministério das Cidades ou da Integração, não ia resolver os grandes problemas a partir de um ministério apenas. Nós precisamos de todos os ministérios. Então, conta mais qual o compromisso da presidente Dilma, qual a relação que eu tenho com todos os ministros de Estado. Conheço praticamente todos os ministros. O ministro das Cidades (Gilberto Kassab, do PSD) me disse, na sua posse, que iria me dar, e a Otto (senador eleito do PSD), tratamento como se fosse o estado dele (São Paulo). Ouvi isso da ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social e Combate à Fome). Então, não terei dificuldade. Evidente que a disponibilidade de recursos estará vinculado ao País resolver suas questões macroeconômicas. Mas o ex-governador estando no conselho político da presidente, ele vai ajudar sobremaneira.

Como será a relação com o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), depois de uma disputa eleitoral agressiva?

Vou tratar o prefeito do município de Salvador com o mesmo respeito que tratarei todos os prefeitos. Em Salvador moram 3 milhões de baianos, cuja maioria votou em mim. Tenho que retribuir a essa povo com muito carinho, com muita atenção. E vou buscar na administração municipal respostas com o máximo de profissionalismo possível, e, da minha parte, ela terá a mesma retribuição. Então, aquilo que for bom para Salvador, espero que ele (ACM Neto) dê celeridade e que facilite, e aquilo que da minha parte eu puder ajudar, também. Temos questões a resolver, como a integração do metrô, a definição da tarifa, e outras formas de relacionamento. Espero que a gente coloque a política de lado e cuide dos interesses da cidade.

O senhor tem uma aliança ampla na Assembleia Legislativa. O senador Otto Elencar, no dia da posse, já antecipou o interesse de PSD, em disputar a prefeitura de Salvador, que é uma meta do PT? Como lidar com pressões do tipo?

Não sei se Salvador é uma meta do PT, aí quem pode falar melhor é o presidente do partido. Mas, não acho que o PT tenha exclusividade para colocar candidaturas para prefeitos, muito menos em Salvador. Acho que temos que encarar com naturalidade que nossos parceiros políticos coloquem candidaturas. Quem sabe o PT não pode apoiar um desses nomes que podem aparecer? São 417 municípios, se em alguns os candidatos têm mais chances que em outros, seria o caso de o PT, aqui ou ali, abrir mão de uma candidatura sua para tentar fazer vitória onde ele tem um desempenho melhor. A disputa municipal não será dificuldade para a base do governo e não serei coordenador de campanha municipal, nem mesmo de Salvador. Eu vou cuidar é da gestão, eu vou me posicionar.
 

E a busca do deputado Marcelo Nilo (PDT) para o seu quinto mandato de presidente da Assembleia, qual a opinião do senhor?

Quem decide é a Assembleia, mas já manifestei publicamente que o revezamento é sempre uma boa medida para o parlamento, que é uma casa de iguais. Marcelo já me disse, e quero registrar isso, que ele vai colocar para votação o fim da reeleição de presidente na Assembleia, e eu o parabenizo por isso.

Fonte: A Tarde

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