Educação
Especialistas criticam problemas no acordo ortográfico
Para o presidente da comissão, senador Cyro Miranda (PSDB-GO), a intenção dos debates não é alterar o acordo, uma vez que, segundo ele, o papel cabe ao Executivo, em entendimento com os demais países signatários.
22/10/2014 às 16h42, Por Maylla Nunes
Acorda Cidade
Agência Brasil – O professor Pasquale Cipro Neto defendeu nesta quarta-feira (22) revisão no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. “O texto do acordo é tão cheio de problema que foi preciso a Academia [Brasileira de Letras] publicar nota explicativa [sobre pontos do acordo]. Por que foi preciso isso? Porque há problemas”, ressaltou o professor, ao participar do segundo dia de debates sobre o assunto na Comissão de Educação do Senado.
Segundo Pasquale, o Brasil saiu na frente dos demais países signatários na implementação do acordo impedindo uma adoção simultânea da nova regra. Para ele, houve atropelo e falta de organização do país no processo. “Nós não podemos ir adiante com um texto que carece de polimento, soluções concretas”, disse.
As diversas situações do uso do hífen, considerado pelo professor uma das grandes fragilidades da norma, foi um dos pontos mais criticados. Para Pasquale Neto, no texto do acordo, “o hífen foi maltratado, mal resolvido”. A seu ver, a questão precisa ser solucionada. De acordo com ele, é inexplicável o fato da palavra “pé-de-meia” ser escrita com hífen e "pé de moleque", não.
Para a professora Stella Maris Bortoni de Figueiredo Ricardo, integrante da Associação Brasileira de Linguística (Abralin), qualquer sugestão de mudança deve ser acordada com os países signatários. “A Abralin recomenda que se consolide o Acordo Ortográfico de 1990, sem que haja nenhuma alteração unilateral. Qualquer alteração que se queira fazer no acordo, que seja feito no âmbito da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa] e do Iilp [Instituto Internacional da Língua Portuguesa]”, defendeu.
Para debater as sugestões visando a melhorar o acordo, a Comissão de Educação do Senado criou, em 2013, grupo técnico de trabalho formado pelos professores Ernani Pimentel e Pasquale Cipro Neto, que deverão apresentar uma síntese em março de 2015. Por interferência da comissão, a implantação definitiva foi adiada de janeiro de 2013 para janeiro de 2016 por decreto da presidenta Dilma Rousseff.
Na rodada de ontem (21) o presidente do Centro de Estudos Linguísticos da Língua Portuguesa, Ernani Pimentel, polemizou a discussão ao cobrar maior simplificação gramatical. Ele lidera movimento para adoção de critério fonético na ortografia, ou seja, a escrita das palavras orientada pela forma como se fala.
Por esse critério, a palavra "chuva", por exemplo, seria escrita com x (xuva), sem preocupação em considerar a origem. Para o professor, a simplificação evitaria que as novas gerações sejam submetidas a “regras ultrapassadas que exigem decoreba”.
A sugestão foi rechaçada pelo gramático Evanildo Bechara que considera que a simplificação fonética, “aparentemente ideal”, resultaria em mais problemas que soluções, pois extinguiria as palavras homófonas – aquelas que têm o mesmo som, mas com escrita e significados diferentes. Segundo ele, as palavras seção, sessão e cessão, ficariam reduzidas a uma só grafia – sesão –, o que prejudicaria a compreensão da mensagem. “Aparentemente teríamos resolvido um problema ortográfico, mas criaríamos um problema maior na função da língua, que é a comunicação entre as pessoas”, lembrou.
O gramático avalia que o acordo reúne qualidades e representa um avanço para o uso do idioma e para unificar regras entre os países lusófonos. Ele ressaltou que os países que assinaram o acordo poderão, depois da implementação das novas regras, aprovar modificações e ajustes, caso necessário.
Para o presidente da comissão, senador Cyro Miranda (PSDB-GO), a intenção dos debates não é alterar o acordo, uma vez que, segundo ele, o papel cabe ao Executivo, em entendimento com os demais países signatários. “Nossa obrigação é chamar as pessoas envolvidas para dar opinião. Mas quem toma a frente é o Ministério da Educação e o Ministério de Relações Exteriores. Estamos mostrando as dificuldades e se, for possível, vamos contribuir”, disse.
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