Entrevista

Filho de Tim Lopes diz que assassinato do pai o motivou a ser jornalista

Bruno Quintella participou na noite de segunda-feira (19) do debate ‘Os Desafios da Reportagem Investigativa’ na Faculdade Anísio Teixeira (FAT).

20/05/2014 às 11h17, Por Maylla Nunes

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Daniela Cardoso
 
Pela primeira vez em Feira de Santana, o jornalista da TV Globo e da Globo News, Bruno Quintella, filho do repórter Tim Lopes, participou na noite de segunda-feira (19) do debate ‘Os Desafios da Reportagem Investigativa’ na Faculdade Anísio Teixeira (FAT). No evento, Tim Lopes foi lembrado através da exibição do trailer do documentário ‘Histórias de Arcanjo’, que tem o roteiro de Bruno Quintella e já conquistou prêmios de melhor documentário e de melhor filme estrangeiro, nos Estados Unidos.
 
Na manhã desta terça-feira (20) o jornalista Bruno Quintella esteve no Programa Acorda Cidade, onde falou sobre os desafios do jornalismo investigativo e sobre o documentário que conta a história do pai, o jornalista Tim Lopes, morto enquanto trabalhava em uma reportagem investigativa. Confira a entrevista na íntegra.

Acorda Cidade – Fale um pouco sobre esse documentário.
 
Bruno Quintella – A história do filme é sobre a vida do meu pai, o jornalista Tim Lopes. Infelizmente ele ficou muito conhecido por causa da morte e a gente acha que o importante era falar sobre a vida dele, que foi um jornalista brilhante. Ele tinha uma maneira plural de se travestir dos personagens do cotidiano, dos esquecidos e excluídos pela sociedade. Ele queria contar a história através da vivência. Desse modo, contava o drama do outro. Ele ia pra rua, ficava três dias e a matéria sobre moradores de rua saia. Na TV Globo ele fazia isso com uma micro-câmara. Meu pai era produtor e por isso não aparecia nas matérias. 
 
Em 2001 ele fez uma matéria chamada Feirão das Drogas em uma favela do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro. No fim de 2011 ele foi agraciado pelo prêmio Esso de Jornalismo. Muitas pessoas associam que por ter aparecido sua figura em público, meses depois na favela vizinha, a Vila Cruzeiro, quando ele investigava a denúncia de exploração sexual de meninas durante bailes funk, ele foi reconhecido, capturado e morto. Acho que foi uma tentativa de silenciar a imprensa através desse assassinato. 
 
AC – Seu pai foi morto por traficantes enquanto trabalhava em uma reportagem investigativa. Mesmo assim você segue o mesmo caminho. O que te motivou?
 
Bruno Quintella – Ao contrário do que os traficantes podem ter pensado, que foi intimidar os jornalistas, o efeito foi inverso. Na verdade nos estimulou a continuar por esse caminho. Eu ainda não tinha entrado na faculdade, mas fiquei muito mais encorajado a seguir por esse caminho. É evidente que aprendi uma lição. A gente tem que se preservar. É preciso que tenhamos um bom-senso, um reforço da empresa jornalística. Além disso começamos a discutir o papel do jornalista. 
 
AC – O filme já está pronto?
 
Bruno Quintella – Sim. O lançamento nacional será no dia 5 de junho e a pré-estreia no dia 2 de junho, uma segunda-feira, dia que completa 12 anos da morte do meu pai.
 
AC – Quais são os principais desafios do jornalismo investigativo?
 
Bruno Quintella – As pessoas associam muito que o jornalismo investigativo é o jornalismo policial, mas é mais do que isso. O meu pai mostrava muito que o jornalismo investigativo também é pelo víeis social. Então, não é necessária somente a análise de documentos e inquéritos. É preciso conhecer o ser humano e meu pai fazia isso. Ele conhecia o ser humano e mostrava seus dramas, suas histórias. O jornalismo investigativo é muito abrangente e não fica somente no víeis policial, mas também no social. Acho que esse é o grande desafio.
 
AC – Como você avalia atualmente o jornalismo investigativo no Brasil?
 
Bruno Quintella – Há uma tentativa ainda de intimidar esse trabalho com ameaças, assassinatos, agressões. A gente sabe que no Brasil o número de jornalistas assassinados e agredidos é muito maior em relação a vinganças e retaliações, do que em mortes em confronto. Mesmo assim somos o segundo país com mais mortes de jornalistas. Se o profissional faz uma matéria que incomoda, ele pode ser morto. O jornalista não deve ter medo e sempre seguir em frente, mas ao mesmo tempo temos que sempre discutir o nosso papel. 

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