Feira de Santana

Pacientes com transtornos mentais enfrentam dificuldades para receber atendimento

O Hospital Psiquiátrico Lopes Rodrigues vem tentando regular esses pacientes para os serviços de prefeituras municipais e de entidades que não têm estrutura para atender a demanda.

24/04/2014 às 15h45, Por Maylla Nunes

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Daniela Cardoso e Ney Silva
 
Cerca de 400 pacientes com transtornos mentais ou com problemas neurológicos estão enfrentando dificuldades para receber atendimento ambulatorial em Feira de Santana. O Hospital Psiquiátrico Lopes Rodrigues vem tentando regular esses pacientes para os serviços de prefeituras municipais e de entidades que não têm estrutura para atender a demanda.
 
Em Feira de Santana, alguns desses pacientes já estão procurando a Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) para receber atendimento. Mas, segundo a diretora, Meire Portugal, a entidade não tem como absorver essa demanda.
 
“Essas famílias buscam a Apae tentando dar continuidade ao tratamento, mas a Apae é uma instituição superlotada. Todas as pessoas da região são atendidas aqui. A gente não tem mais espaço físico e nem pessoal para atender novas pessoas que vêm de lá. A gente quer esclarecer para a comunidade que não temos condições de atendê-los”, afirmou.
 
Meire Portugal disse que já falou com o pessoal da Secretaria de Saúde e com o pessoal do Hospital Lopes Rodrigues, para que esses pacientes não sejam encaminhados para a Apae, para não gerar uma expectativa na família.
 
A rede Caps – Centro de Assistência Psicossocial da Prefeitura de Feira de Santana- também não tem como atender essa demanda encaminhada pelo Hospital Lopes Rodrigues. É o que afirma a coordenadora da rede, Robervânia Cunha.
 
“Desde o final do ano passado, estamos recebendo pessoas que não tem perfil para o Caps. Trabalhamos com transtorno mental severo, persistente e moderado e estão chegando pessoas com problemas neurológicos, com deficiência mental, que não é a nossa clientela. Além disso, tem pessoas que estão com receitas para pegar remédios, sem que tenham sido avaliadas por médicos da rede Caps. Isso não pode ocorrer, pois não temos o histórico do paciente”, explicou.
 
Robervânia Cunha explicou que o internamento no Caps é feito apenas para pessoas matriculadas na rede, que segundo ela, são cerca de 20 mil. “Temos apenas um Caps 3 com cinco leitos com internação para até 10 dias. Os outros dois Caps que temos estão sendo requalificados para o Caps 3. Teremos então 15 leitos”, informou.
 
Ela afirmou que as residências terapêuticas não serão ampliadas. “Não podemos atender esses pacientes, pois estão cronificados no hospital. A residência terapêutica é um serviço de reinserção social. Essas pessoas precisam ter um mínimo de autonomia para gerir a própria vida dentro da comunidade. Não vamos criar minihospitais em residências dentro de Feira de Santana”, destacou.
 
A coordenadora da rede disse, ainda, que nesse momento a rede Caps está sendo reestruturada junto à atenção básica, pois os casos leves serão encaminhados para a atenção básica. “Para isso estamos montando uma capacitação, mas não temos contra-partida nenhuma do estado. O número de pacientes que eles dizem que vão mandar nós iremos absorver, mas com dificuldade. Eles vão ter que respeitar o prazo que daremos”.
 
A diretora do Hospital Lopes Rodrigues, Iraci Leite, informa que o ambulatório do hospital vai fechar e confirma que os pacientes estão sendo encaminhados para tratamento em serviços de saúde das prefeituras. Ela explica o que está mudando no atendimento psiquiátrico.
 
“Essa situação não é de agora e sim desde 2010. Com a reforma psiquiátrica, começou a se fazer a desospitalização. Primeiro de forma lenta e agora está sendo acentuada. O hospital Lopes Rodrigues, especializado em psiquiatria, não vai fechar as portas, o que estamos fazendo é desospitalizando, tirando pacientes daqui para os municípios onde tem residência terapêutica e pacientes que eram atendidos aqui no laboratório. Então o que vai mudar é o perfil. Deixa de ser um hospital com atendimento de ambulatório, internamento e emergência para ser só especializado com emergência 24 horas, que será ampliada, e internamentos em casos agudos”, disse.
 
Iraci afirmou que o atendimento ambulatorial não é função mais do Hospital Psiquiátrico Lopes Rodrigues. “Estamos referenciando os pacientes para os municípios de forma organizada, ética, consciente e discutida com esses municípios. O ambulatório infantil e adulto funcionará da seguinte forma: o paciente chega aqui, é atendido, a gente dá a medicação até para mais de um mês para que ele tenha suporte até que o município se prepare para recebê-lo”.

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