Polícia

Em 43 horas de paralisação, 53 pessoas foram mortas em Salvador e RMS

A greve da Polícia Militar, que começou na noite da última terça-feira e chegou ao fim na tarde de ontem, teve o dobro do número de mortes que a greve anterior, de 2012.

18/04/2014 às 07h28, Por Maylla Nunes

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Duas vezes mais mortal. A greve da Polícia Militar, que começou na noite da última terça-feira e chegou ao fim na tarde de ontem, teve o dobro do número de mortes que a greve anterior, de 2012, proporcionalmente.
 
Ao todo, em 43 horas de paralisação, 53 pessoas, duas delas PMs, morreram,  na Grande Salvador — é como se a cada 48 minutos e 12 segundos, alguém fosse assassinado. Já nos 12 dias da última greve, 172  homicídios foram registrados — o tempo entre uma morte e outra foi de 1 hora e meia. 
 
Agora, pelo menos cinco vítimas eram menores de 18 anos. O bairro mais violento foi Paripe, com cinco mortes, seguido por Fazenda Grande e Lauro de Freitas, na Região Metropolitana, com quatro mortes cada. Todas as vítimas eram homens, menos Monique Evelyn Florêncio Silva, 11 anos — a primeira a morrer, na terça-feira, em Santo Inácio. 
 
PMs mortos
 
Durante a greve, nem a polícia estava segura. Por volta das 23h de quarta-feira, o soldado Erival Santiago Ramos, foi morto em uma troca de tiros com outros dois policiais em Bela Vista do Lobato. Erival era lotado na 18ª Companhia Independente da PM (Periperi).
 
“Ele tinha terminado o plantão e levou suprimentos para os colegas no Wet’n Wild. Quando estava perto de casa, dois policiais que estavam aguardando delinquentes atiraram e atingiram ele”, contou o pai do PM, Marcelo Oliveira.
 
O soldado não estava fardado e chegava de moto com outro colega policial, que foi atingido na mão. Os policiais que atiraram também estavam sem fardas. Erival foi levado ao Hospital do Subúrbio, mas não resistiu. Seu corpo será enterrado hoje, às 9h, no Cemitério Campo Santo.
 
Saques
 
Além dele, o sargento Alberto Gonçalves Medeiros, 57, foi assassinato no final da noite de quarta-feira. Por volta das 22h30, Alberto foi avisado de que um grupo tentava saquear uma loja da Casas Bahia no Largo de Pau da Lima, segundo o genro dele, Bruno Lameira.
 
“Ele era um padrinho no bairro. Sempre que alguém ligava pedindo ajuda, ele ia defender. Foi o que tentou fazer”. Segundo ele, Alberto saiu de casa para tentar conter os saques. “Ele achou que o pessoal não estava armado e atirou para cima, para dispersar. Mas o pessoal revidou”.
 
O sargento foi atingido no rosto e morreu antes de chegar ao posto médico de São Marcos. Alberto fazia parte do Comando de Operações Policiais Militares. O enterro está previsto para as 11h de hoje, no Cemitério Bosque da Paz.
 
Encapuzados
 
A  noite do segundo dia de greve foi ainda mais sangrenta. Pouco antes, por volta das 20h, o carregador de cargas Douglas Oliveira Pereira dos Santos, 22, foi assinado em Castelo Branco, com dois tiros.  Ele caminhava com a mulher e um primo pela Rua Direta, momentos depois de a filial da Cesta do Povo no bairro ter sido assaltada.
 
Segundo parentes da vítima, os três foram abordados por homens encapuzados, em um Celta preto, mas Douglas não conseguiu escapar. “Os homens insistiam que ele tinha participado do arrombamento, mas Douglas dizia que não. Foi quando um deles o colocou de costas para a parede e atirou”, contou um parente. Douglas foi atingido no peito e cabeça e morreu no local.
 
Às 10h de ontem, o corpo dele continuava estava estirado na pista. Revoltados, parentes e amigos tocaram fogo em pneus e pedaços de madeira para bloquear a via. Cerca de 45 minutos depois, policiais do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) convenceram os manifestantes a liberar a pista.
 
Demora
 
O corpo de Douglas não foi o único que demorou de ser removido pelo Departamento de Polícia Técnica (DPT). O porteiro Luciano Santos Silva, 30, foi morto no início da madrugada de quarta-feira, mas até o início da noite de ontem, familiares aguardavam a remoção.
 
De acordo com a esposa dele, Eliene Souza, Luciano foi sequestrado por oito homens armados, que invadiram a casa da mãe dela. “Tinha outras seis pessoas, mas só levaram ele e outro. Chamaram ele de traficante, matador de policial”, contou Eliene.
 
Foi aí que as histórias de Luciano e do soldado Erival Santiago se cruzaram. “Tinham matado o policial pouco antes, por isso esses homens invadiram a casa. Mas Luciano era trabalhador”. O porteiro deve ser enterrado hoje.
 
Segundo o DHPP, a demora para remover os corpos foi devido à quantidade de homicídios registrada durante a greve e à paralisação de 24 horas da Polícia Civil, anteontem. 
 
Feridos  
 
Se o número de mortos foi alarmante, o de pessoas atingidas por disparos de arma de fogo ou vítimas de golpes de arma branca foi maior. Só na rede municipal, entre as 7h de quarta-feira e as 7h de ontem, 70 ocorrências foram registradas: 64 de arma de fogo e seis de arma branca. Normalmente, a média é de três ocorrências por dia — o aumento foi de 2.300%.
 
Para atender tanta gente, cinco hospitais particulares cederam 40 leitos ao município: Santa Izabel, Português, Irmã Dulce, Martagão Gesteira e São Rafael. Em Valéria, a prefeitura criou uma unidade de estabilização, com cinco leitos e equipe cirúrgica 24 horas na UPA do bairro.
 
No Hospital Geral do Estado (HGE), entre a noite do dia 15 e as 9h de ontem, 37 situações foram registradas no posto da Polícia Civil. Uma das vítimas foi o soldado da PM Uoston José Bahia dos Santos, 37, também baleado na noite de quarta-feira, no Matatu de Brotas. Ele foi atingido no pescoço e na coxa direita, depois que dois homens tentaram roubar sua moto. O soldado teve alta ainda na quarta-feira.
 
Já no Hospital Geral Roberto Santos, foram duas mortes nos oito atendimentos prestados. Outros dois homens também morreram no Hospital Ernesto Simões, em Cajazeiras. Os números do Hospital do Subúrbio não foram informados pela assessoria da instituição. As informações são do Correio.

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